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O segundo cérebro e as emoções

Nota inicial: este texto serve para dar a conhecer uma parte dos estudos científicos que reconhecem o sistema digestivo como Sistema Nervoso Entérico (SNE). No meu primeiro artigo sobre o segundo cérebro falei sobre a importância de termos em atenção aquilo que comemos, não só pela parte nutricional, mas também pelo impacto que tem a nível psicológico, quem diria que estes dois sistemas estavam interligados! Este artigo visa acrescentar mais informação com o objectivo de te sensibilizar para um facto humano muito intrigante: a ligação entre Sistema Nervoso Central (SNC) e SNE através do Nervo Vago. Que relação existe entre o segundo cérebro e as emoções? A regulação emocional refere-se à capacidade de gerirmos e respondermos de forma eficaz, ecológica a uma experiência emocional. Como humanos temos um conjunto de emoções-base que são importantes para que façamos essa regulação de maneira natural, essas emoções são: Alegria, Tristeza, Medo, Raiva e Nojo/Repulsa. Estas emoções são todas adaptativas e não devem ser “anuladas” por nós, isto é, devemos de as viver e não tentar fazer com que não existam até porque isso é renunciar ao que somos, seres emocionais. Vamos a exemplos: quando morre um ente querido, amigo ou animal de estimação nós ficamos tristes porque é a maneira da nossa mente lidar com a perda física de alguém, é a adaptação à ausência de uma pessoa, logo, a tristeza é adaptativa e não deve ser desprezada com o perigo de negarmos uma realidade. Outro exemplo, quando vou ligar uma ficha a uma tomada não coloco lá os dedos porque tenho medo de apanhar um choque, é o nosso instinto de sobrevivência a funcionar para que não nos aconteça nada, contudo, imagina que esse medo te domina, o que acontece? Paralisas! Então nesse momento percebes que o medo está a dominar-te e não a ser teu um aliado adaptativo, portanto, o medo faz falta como emoção e não como bloqueio.


Como disse de início, o nervo vago faz a ligação entre o SNC e o SNE pois para além de ser o maior nervo do corpo humano – tem origem no cérebro, percorre o pescoço e tem terminações nervosas no sistema digestivo, fígado, pâncreas, coração, baço e pulmões – desenrola um papel importante na frequência cardíaca, funções gastrointestinais e movimentos musculares. No seu livro “O Intestino Feliz”, a Dra. Irina Matveikova diz-nos que sentimos com o abdómen pois o sistema digestivo detecta, processa, canaliza, e gera emoções. A associação do abdómen neste processo está relativa ao facto de somatizarmos as emoções e o stress, pressentir e intuir acontecimentos e, também guardamos memórias de infância e ocultamos os medos. Quando recebemos uma boa noticia sentimos um formigueiro agradável que percorre a nossa barriga, já quando recebemos uma notícia menos boa causando assim tensão ou medo retraímos o estômago. Curiosamente os orientais já falam da zona do abdómen como o centro de energia, o terceiro chakra ou plexo solar e é o local onde a Vida existencial ganha força dai ser tão importante estarmos em contacto com o nosso centro e reunir a nossa energia.


Como vimos, o nervo vago desempenha um papel importante na regulação das emoções e surge uma pergunta pertinente: Como podemos estimular o nervo vago para regular as emoções? Podemos estimular com algumas técnicas que passamos a quem está em consulta psicológica, deixo aqui duas:


  • Respiração diafragmática: esta respiração é realizada, como o próprio nome indica, pelo diafragma uma zona que fica na direcção do estômago e permite usar 80% dos nossos pulmões, enquanto que a torácica somente usamos metade dos pulmões (é a que fazemos mais regularmente…). Com a tua mão na barriga inspira durante 4 segundos sentindo a barriga a vir para fora, depois sustem a respiração por 2 segundos e expira, sentido a barriga ir para dentro durante 6 segundos. Repete esta técnica até sentires que a fazes de forma automática (inconsciente) e assim melhoras os níveis de oxigénio no corpo, exercitas os pulmões de forma correcta, (re)programas a mente subconsciente e, como vês, são só benefícios.

  • Registo das emoções: como animais emocionais devemos saber identificar as nossas emoções para que não caiamos no erro de negar aquilo que sentimos. Uma das técnicas mais poderosas que conheço são os auto-registos, a qual podemos fazer com o registo das emoções num diário e desta forma identificar a situação em que a senti (a emoção) e depois nomeá-la.


A influência emocional dos dois cérebros está amplamente estudada, para mim como psicólogo faz-me todo o sentido estudar porque assim permite-me ter uma abordagem holística do ser humano pois nós somos muito mais do que a somas das nossas partes. Quando experienciamos situações de medo, terror, traumas ou situações de tensão emocional forte estas podem provocar vómitos ou diarreia e até parar a digestão. A saudade, frustração sentimental, baixa auto-estima, falta de amor próprio, por exemplo, são estados psicológicos que influenciam de forma negativa o metabolismo e os processos digestivos. Podem provocar falta de apetite, desgosto, indiferença e uma digestão lenta e incómoda. Depois disto explicado, tenho a certeza que percebes a importância de uma alimentação saudável, não só promove uma melhor digestão e absorção dos nutrientes e vitaminas dos alimentos como mantém a produção e absorção de serotonina (hormona responsável pela felicidade e bem-estar) pelos intestinos que têm a ligação com o SNC pelo nervo vago. Estes dois sistemas (nervoso e entérico) estão sempre em contacto, cabe a ti definires que comunicação queres para eles.


Podes ver o meu vídeo sobre o Segundo Cérebro aqui!


Por uma Psicologia mais próxima!


Obrigado!!

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